Com informações de MarketWatch.com e demais fontes citadas ao longo do texto.
Aviões no chão. Fronteiras fechadas. Cinemas e teatros proibidos de abrir. Jogos Olímpicos adiados. Mensagens incessantes nos meios de comunicação ensinam a fazer máscaras caseiras. Com apelos por todos os lados para que as pessoas fiquem em casa (se não trabalharem com serviços essenciais), quem não acreditaria que é o isolamento social que vai restabelecer a tal ‘normalidade’ em breve? Especialistas concordam que o humor pode ser mais eficaz do que as estatísticas para convencer aqueles que negam a gravidade da pandemia.
O vídeo acima é uma simulação de um espirro ou tosse num corredor de supermercado. Você conhece alguém que segue levando a vida como se nada estivesse acontecendo?
Total de casos em 11 de abril
Do dia 26 de março até hoje, o número de pessoas mortas por covid-19 no Brasil saltou de 77 para 1.074 casos. Nestes 15 dias, os infectados subiram de 2.915 para 19.943 pessoas, somente no Brasil. Mas os números parecem não impressionar quem pensa diferente, certo?
Como convencer aqueles que negam a gravidade da pandemia
Crie empatia com a ideosfera delas
Uma ideosfera é como a atmosfera, só que de ideias que circulam no ar por aí, e cada grupo social cria o seu próprio mundo de ideias válidas. Portanto, antes de mais nada, estude a pessoa que você precisa convencer e tenha claro o meio ambiente das ideias no qual ela vive. Dependendo do grau de descolamento da realidade, você vai precisar de diferentes tipos argumentos e táticas para ter sucesso nesta missão.
Reunimos opiniões de especialistas em psicologia e cognição humana. Mas lembre-se: a palavra “especialistas” está proibida com quem não acredita na OMS, ou faz ligação dela com teorias da conspiração. Inclusive celebridades tem contribuído – não para ajudar as vítimas da pandemia -, mas para propagar fakenews.
Não importa a crença religiosa ou a preferência política: todo o cuidado com o coronavírus é pouco.
De acordo com a psicóloga cognitiva Gretchen Chapman, da Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburg nos EUA, os memes, o humor e as experiências práticas podem ser mais eficazes do que estatísticas, números e gráficos para tentar convencer as poucas pessoas que insistem em negar a gravidade da pandemia, ou que acreditam que “tudo é uma conspiração”, ou que simplesmente minimizam a gravidade da covid-19.
“Sir, that’s an ingenious way to avoid getting the Coronavirus.”
— Matt Oswalt (@MattOswaltVA) April 10, 2020
“Coronavirus?” pic.twitter.com/blKwhOa6Z0
Dependendo de qual ideosfera a pessoa habita, não vai adiantar você contar que Bill Gates previa a próxima pandemia desde 2015, ou recomendar a entrevista com o biólogo Átila Iamarino no Roda Viva, talvez nem o argumento dramático de que “morto não trabalha nem empreende” funcione, causando apenas irritação e preocupação em você.
Assim como todo o cuidado é pouco para se proteger do novo coronavírus, todo o cuidado é pouco para convencer alguém que passa pela fase de negação da desgraça que assola o mundo e tira a vida de milhares de pessoas todos os dias.
Expresse a sua preocupação genuína
Traga o problema para você, trocando frases como “você não está entendendo” por “eu me preocupo muito com a sua saúde e das pessoas próximas a você”.
“Estou preocupado com sua segurança” é diferente de “você não deveria sair de casa”, explica o presidente da Associação Americana de Psiquiatria, Joshua Morganstein. “Dizer a alguém: ‘Eu me preocupo com você e estou preocupado com sua segurança’ permite que o foco esteja em você e em seus próprios sentimentos, e menos focado nos comportamentos da outra pessoa”.
Troque o mensageiro
Depois de entender a ideosfera da pessoa a ser convencida, você precisa avaliar qual mensagem vai ser melhor recebida. “Talvez seja mais eficaz apelar para outras fontes, como celebridades e influenciadores populares”, diz a professora de psicologia da Universidade da Califórnia e pesquisadora de crenças falsas, Celeste Kidd.
A Embaixada da Itália em Brasília, por exemplo, pede que cidadãos italianos no Brasil voltem para a Itália. A Itália se transformou no novo epicentro da pandemia depois da China, e somente nesta semana os EUA ultrapassaram em números fatais absolutos o país europeu:
❗️URGENTE – AVVISO AI CONNAZIONALI ❗️
— Italy in Brazil (@ItalyinBrazil) April 11, 2020
L’Ambasciata d’Italia a Brasilia invita i connazionali RESIDENTI IN ITALIA, attualmente in Brasile per motivi di breve durata, a fare rientro in Italia quanto prima. Maggiori info su 👇🏻https://t.co/klBx4J6tlH
A politização é um complicador
As ideosferas paralelas criaram ‘muros invisíveis‘ ideológicos – que antes mesmo da pandemia já dividiam famílias, afastavam amigos e tornavam um pesadelo qualquer conversa sobre política – construídos não de tijolos ou aço, mas de ideias por vezes tóxicas.
#Charge por @cartunistazappa #BomDia ! #hidroxicloroquina , ou #coronavirus ? No #Brasil até isso gera divisão. E você? Fica com a #GloboLixo , ou com a #ciencia ? Com a #doença , ou com a #Cura ? Com a #democracia , ou com a #China ? Com a #Arte do #Humor , ou com o #Panico ? pic.twitter.com/TmpsXvVhQh
— Cartunista Zappa (@Zappa_Humor) April 7, 2020
Mesmo com a covid-19 causando a falência os sistemas de saúde e economias de países desenvolvidos com governos de esquerda e de direita, ideosferas paralelas adiam a volta à normalidade para todos, tanto para quem cumpre as orientações de isolamento social, quanto para quem está fazendo o vírus circular.
A cloroquina foi banida no tratamento da covid-19 em hospitais na Suécia, por exemplo.
As pessoas relutam em acreditar nas coisas que não veem
Emma Frances Bloomfield, da Universidade de Nevada
Ative o senso de coletividade responsável
Aqui entra a sensação de culpa por estar “fazendo o vírus circular“, que pode ou não funcionar.
“Se alguém sente que a escolha que está fazendo afeta apenas a si próprio, pode se sentir mais autorizado a fazer o que quiser”, disse Kidd. “Se, em vez disso, o impacto for causado às comunidades, amigos e familiares, é provável que eles reconsiderem”, completa.
Embora um número expressivo de pessoas acredite em religiões e curas milagrosas que não podem ver, os seres humanos materializam em imagens e palavras algumas dessas crenças, já que “as pessoas relutam em acreditar nas coisas que não veem”.
Não ignore, entretanto, o fato de que existe uma instituição invisível no Brasil, apelidada de Gabinete do Ódio, especializada em materializar – com espantoso sucesso – os objetivos e interesses de grupos sócio-econômicos invisíveis.
Invoque vítimas identificáveis
O primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, segue internado em decorrência da covid-19 após passar três dias recebendo oxigênio na UTI. Vinte e três membros da comitiva do presidente Jair Bolsonaro se infectaram com o coronavírus em viagem à Miami, nos EUA. O CEO do Banco Santander em Portugal faleceu vitimado pela covid-19.
Entretanto, faltam no noticiário os rostos das mais de mil pessoas que perderam as vidas no Brasil, quinhentas apenas nos últimos 5 dias.
Dê cara às vítimas. Infelizmente começam a surgir relatos de pessoas que contraíram o vírus, ou sofreram a dor de não poder velar ou receber abraços pela perda de familiares. Uma médica que convocou carreatas pró-Bolsonaro morreu infectada pelo coronavírus.
Troque artigos e informações
Isso serve para mostrar que você se preocupa com a perspectiva da pessoa, analisando as fontes de informações erradas em que ela parece confiar, mas fornecendo uma base para fontes mais confiáveis. Sabemos que tudo depende do grau de descolamento da realidade. Portanto, se necessário, uma alternativa é usar fakenews forjadas que alcancem a linguagem que a pessoa está habituada.
Apele aos valores fundamentais
Se o argumento para evitar o isolamento for a salvação da economia, você pode apontar que as cidades que implementaram políticas mais fortes de distanciamento social durante a pandemia de gripe de 1918 viram maiores ganhos econômicos após o término da pandemia.
“Essa pessoa pode ser mais receptiva a essas abordagens”, disse Chapman, do que a informações provenientes de alguém que elas veem como “uma pessoa acadêmica elitista da saúde pública”.
Mantenha o foco no objetivo
“Não transforme isso em uma conversa pessoal que refaça todas as divergências que vocês tiveram ao longo dos anos”, reforça Kidd. “Se for uma pessoa que não acredita na eficácia de nenhuma vacina, nem toque no assunto pois esta não é a prioridade agora”, aconselha a psicanalista.
Seja o exemplo
“Você não deve subestimar a importância de ações que falam mais alto que palavras”, disse Morganstein. “Às vezes, a melhor maneira de incentivar alguém a participar de uma atividade … é que outras pessoas sigam silenciosamente essa atividade”. Essa pessoa, por sua vez, provavelmente ficará ciente de que é a pessoa mais estranha.
Controle seu próprio comportamento
Mesmo que você não tenha sucesso no esforço de convencimento, procure manter o controle emocional. “Se você mora com alguém que se recusa a seguir as recomendações de saúde pública, faça o que estiver sob seu controle para se manter seguro”, disse Morganstein – seja desinfetar superfícies, usar uma máscara dentro de casa ou manter o distanciamento físico da pessoa.
“Seria triste se você tivesse que fazer isso porque seu colega de quarto ou seu irmão é um idiota, mas a vida pode ser assim”, acrescentou Naomi Oreskes, professora de História da Ciência na Universidade de Harvard. “Estamos vivendo em uma situação abaixo do ideal – todos estamos apenas tentando fazer o melhor que podemos”, conclui.