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A indireta do “Desafio do Leite” aos supremacistas brancos

O professor de antropologia da tecnologia da Universidade da Virgínia, David Nemer, explica o que está por trás do gesto de Tereza Cristina, Jair Bolsonaro, Allan dos Santos, Damares Alves - entre outros - no campo da linguagem (nem tão) subliminar.

Imagem: engin akyurtUnsplash

Que maldade pode haver em um copo de leite? Qual a ligação que um singelo copo de leite pode ter com supremacistas brancos? Nenhuma – pelo menos para a maioria das pessoas que não possui conhecimentos avançados em semiótica contemporânea.

Uma das pessoas que entende do assunto, o professor de antropologia da tecnologia da Universidade da Virgínia, David Nemer, explicou no Twitter o que está por trás do gesto de Tereza Cristina, Jair Bolsonaro, Allan dos Santos, Damares Alves – entre outros – no campo da linguagem subliminar:

As pessoas não tem entendido o pq que Bolsonaro tem tomado um copo de leite durante as lives dele. O que é um claro aceno e cumprimento aos grupos da extrema direita

David Nemer em 29 de maio de 2020 no Twitter

Tudo começou quando a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, postou um vídeo na página do Facebook aceitando o “Desafio do Leite”, proposto pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (ABRALEITE) em comemoração ao resultado positivo do setor no 1º trimestre do ano. Por sinal, o agronegócio foi o único setor que registrou resultados positivos na economia no período.

Nemer explica que “nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos“.

Ministra Damares Alves. Reprodução.

Nemer contesta a versão de que não há vinculação entre o gesto e a simbologia supremacista. Ele vai além e defende que a linguagem do bolsonarismo em geral se baseia no, e tem ligação com, símbolos de movimentos da alt right dos Estados Unidos.

O simbolismo da extrema direta é uma constante no Bolsonarismo, ou seria mais uma coincidência?

David Nemer, no Twitter

Entendedores entenderão.

Allan dos Santos, em live do canal de fakenews Terça Livre

O estudioso investigou um grupo brasileiro de supremacistas no Twitter, o Leon Leitadas, e chegou à conclusão de que a conta deles foi a responsável por disseminar a campanha para a Dra. Yamaguchi assumir o Ministério da Saúde. “As contas deles são constantemente banidas pelo Twitter por violações e ataques na plataforma“, afirma Nemer.

Reprodução: David Nemer no Twitter

Pano de fundo

Na semana passada, o garoto João Pedro, de 15 anos, negro, morreu assassinado dentro de casa em uma desastrosa operação policial em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Esta semana, a polícia de Minneapolis, nos Estados Unidos, assassinou George Floyd sufocado, mesmo depois de rendido e imobilizado por policiais. Protestos se espalharam no país levando milhares às ruas.

Neste sábado, em Denver, um protesto levou uma multidão a reviver o momento do assassinato de George Floyd. Se deitaram no chão e gritaram as últimas palavras ouvidas da boca do homem inocente que implorou pela própria vida durante 8 minutos e 46 segundos: “I can’t breathe” (“não consigo respirar”).

Tensão contra a imprensa aumenta

Uma equipe do canal CNN foi presa, ao vivo, enquanto cobria um protesto em Minneapolis na quinta-feira.

Os profissionais foram liberados em seguida. Porém, no dia seguinte ao ocorrido, a sede do canal em Atlanta foi vandalizado por manifestantes.

O ataque contra grandes grupos de mídia nos Estados Unidos é um discurso abraçado tanto por apoiadores de Donald Trump quanto por manifestantes de esquerda.

Uma equipe da Fox News foi atacada na sexta-feira à noite em um protesto em frente à Casa Branca. Pessoas da equipe foram atingidas por projéteis enquanto fugiam, e uma câmera foi destruída.

Clique aqui e leia mais sobre a maior onda de protestos desde 1960 que varre os EUA impulsionada também pelo desemprego súbito de mais de 40 milhões de trabalhadores, a covid-19 e a recessão anunciada.

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