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Um agradecimento a quem esteve com a gente em 2020 <3

Nosso agradecimento público a quem assinou a newsletter ou seguiu um blog desconhecido por estar com a gente durante um ano que lembraremos para o resto das nossas vidas.

Foto: jules a., no Unsplash

Quando tudo começou, em Janeiro, jamais imaginaríamos um cenário de contagem de mortos na televisão todos os dias. Então parece que sim, apesar das mais diferentes histórias que possamos ter, tanto você quanto nós tivemos a sorte de sobreviver a 2020. Recentemente superamos o choque paralizante causado pela a frieza com que pessoas próximas e distantes encararam e encaram a pandemia. Vivenciamos um sentimento novo e indescritível.

Poderíamos começar nos autopromovendo, lembrando que sorteamos livros e que em 2021 vamos também vendê-los, mas esse sentimento novo não é sobre nós, é uma nova percepção do mundo.

A nossa sensação é de que desde 2015 dizemos que tivemos um ano ruim. Com 2020 não há comparação possível: ele simplesmente não vai terminar em 31 de dezembro. Neste ano, desigualdades que sempre existiram se aprofundaram. Os ricos nunca enriqueceram tão rápido e os pobres nunca empobreceram tanto – mas também vimos que não é uma utopia fazer o capitalismo parar, e que basta uma motivação comum para transformá-lo em algo menos pior.

A ideia de um reinício positivo – tanto de um ano novo como de um grande Reset – soa convidativa para que os nossos cérebros consigam renovar os pensamentos, os sentimentos e impulsionar a realização de tudo que se deseja. Em uma época de tantas incertezas, quem não precisa renovar as esperanças no futuro? É realista ou pessimista achar que o grande Reset pode virar um grande Bug?

A ideia de “grande virada” já foi devidamente apropriada pelos capitalistas do norte através do Fórum Econômico Mundial (WEF). Mas eles enxergam o tal reset vinculado a um preço a ser pago. Líderes mundiais atrelam benefícios, como a renda básica universal, à disseminação da vigilância massificada. Sob o pretexto de mais segurança em um mundo cada vez mais incerto, a massificação do uso de tecnologias de reconhecimento facial deixa uma da pergunta pairando no ar 2021 adentro: até que ponto vamos achar aceitável substituir humanos por robôs?

Já estamos lidando com as dificuldades em aceitar que nos tornamos desnecessários em um mundo robótico. 2020 tornou necessário reaprender ideais de felicidade – e o que não faltam são professores de felicidade por aí. Dos mais diversos tipos. E o mais intrigante é que quanto mais o tempo passa, mais a ciência defende que é possível reensinar novos hábitos ao cérebro através de técnicas cognitivo-comportamentais, ao mesmo tempo que não questionamos se esses “novos hábitos” trazem felicidades ou são aquilo que realmente almejamos. Seremos mais felizes ao implantar um chip no cérebro?

Por outro lado, questões do trabalho e de sermos mais felizes são temas que dividem a atenção com tantas outras preocupações. Em 2021 o enfrentamento ao racismo estrutural começa pela abolição da branquitude. A reparação minimamente proporcional ao passado arcaico e grotesco da escravidão não é feita somente através da denúncia contínua do atual governo e do que ele representa. “Diversidade” se torna uma palavra vazia de significado enquanto não pudermos nomear e apontar o racismo. “Diversidade” é a armadilha para manter as minorias majoritárias sob a tutela dos movimentos identitários.

Não nos parece justo tocar neste assunto sem mencionarmos os crimes bárbaros que ocasionaram desde o assassinato de um garoto de 14 anos brincando dentro de casa, João Pedro, em uma trágica ação policial; o linchamento de João Alberto Freitas no Carrefour em Porto Alegre; e tantas outras atrocidades que ocorrem não em um passado distante ou fisicamente longe, mas agora no tempo presente e no supermercado que frequentamos. Massacre de indígenas e de ativistas. Desmatamentos e queimadas recordes. Agrotóxicos liberados. Como chegar a um novo pacto social para evitar tanto sofrimento e destruição em escalas inimagináveis no futuro?

Mergulhamos ainda mais e tentamos imaginar um mundo em que as prisões deixassem de existir, como propõe Angela Davis no livro “Estarão as Prisões Obsoletas?” Por que estamos errando tanto e tão feio e há tanto tempo? O novo ano vai conseguir trazer a solução de algum problema ou alguma dessas respostas? Como entender que as penitenciárias são obsoletas se defendemos a ideia de que é razoável prender o presidente e os filhos dele pela lista diária de crimes? Como punir um feminicida?

Mais e mais temas são urgentes. A normalização do machismo que se apropria dos corpos das mulheres e que as mata; o velho machismo de sempre que descamba em homotransfobia e violência física e simbólica contra pessoas homo ou trans; a misoginia por trás da visualidade heterotóxica de corpos de homens – tanto héteros quanto gays. Não devemos nem chamar esta lista tão curta de resumo. É tudo tão mais complexo.

Como a humanidade pode aceitar e aproveitar melhor o conhecimento que a própria humanidade produz?

É possível haver uma chave para a “grande virada” no comportamento machista, por exemplo? Ainda mais no Brasil, em uma época com tantos ‘defensores da família tradicional‘ que agem abertamente conforme o oposto do que pregam?

O panorama negacionista do debate público não permite mais a omissão de opiniões. Dizer o que parece óbvio virou necessário em um ciberespaço pós-verdadeiro recheado de intenções por todos os lados.

As relações de poder precisam ser questionadas como nunca antes porque agora a zona de influência delas nunca esteve tão íntima: em praticamente qualquer aparelho tecnológico. 2020 foi o primeiro ano da era da supremacia quântica. Esses e outros assuntos vão continuar nos pautando e pretendemos nos aprofundar ainda mais em 2021. Nossa newsletter deixa de ser semanal (já tinha deixado não é?) e passa a ser mensal efetivamente a partir de Janeiro.

Acreditamos que a mudança de cérebros é possível através do trabalho de formiguinha. E continuamos escrevendo porque a clareza sobre temas antes tão evitados apenas é possível hoje graças a um sistema capitalista falho que poderíamos até pretender derrubar, ou nos conformar com a ideia de reformá-lo e quem sabe transformá-lo para melhor (:

Muito obrigado! Um FELIZ e vacinado 2021 para você!

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