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Anarcocapitalismo: porque devemos levar a sério

Defensores e desertores do bolsonarismo se reúnem em manifestações cada vez mais frequentes

Reprodução: Bandeira ANCAP

Mesmo com os índices de popularidade em queda nas últimas semanas, Bolsonaro mantém estável seu séquito de aproximadamente 30% de apoiadores. Os anarcocapitalistas fazem parte de um espaço interseccional entre estes apoiadores e quem diz estar insatisfeito com o governo. Grupos identificados como ANCAP vêm tomando cada vez mais lugar nas esferas ideológicas.

O anarcocapitalista Paulo Kogos e a bolsonarista Sara Giromini. Reprodução: Instagram

Corrente filosófica que surgiu nos anos 50 com o estadunidense Murray Rothbard, da Escola Austríaca de Economia, o anarcocapitalismo defende o fim da interferência do Estado na vida do indivíduo. Prega que serviços essenciais, como escola, saúde e segurança públicas, sejam privados e operem dentro de uma dinâmica mercadológica. Promove a liberdade total do indivíduo por meio da propriedade privada e do livre mercado, sem ingerência política.

Apesar de vários adeptos, esse movimento ultraliberal nunca foi posto em prática em nenhum lugar do mundo. No Brasil, defensores e desertores do bolsonarismo se reúnem eventualmente para exibir seus ideais em manifestações cada vez mais frequentes, organizadas pelas redes sociais.

Reprodução: Rogério de Santis / Ponte Jornalismo

No dia 2 deste mês, cerca de 40 pessoas participaram de uma manifestação anarcocapitalista no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Integrantes do movimento Ucraniza Brasil, que não usavam máscaras, pediam o fim das medidas de restrição impostas pelo governador João Dória Jr. para tentar controlar a crise sanitária da Covid19, e a sua renúncia. Pediam também a criminalização do comunismo e o fechamento do Supremo Tribunal Federal.

Outro protesto aconteceu no MASP poucos dias depois. O Ucraniza SP acampou no vão livre do Museu de Arte de São Paulo e pediu novamente a renúncia do governador. 

Embora evitem o rótulo de extrema-direita, os integrantes do Ucraniza Brasil não são os únicos a se inspirarem nos movimentos neonazistas da Ucrânia. Sara Geromini é uma conhecida militante do bolsonarismo e se autodenomina Sara Winter e ex-feminista. Ela diz ter sido treinada pelo exército ucraniano e, hoje, cumpre pena em prisão domiciliar por liderar um acampamento armado em Brasília no ano passado. 

Ironicamente, para embasar a prisão da extremista, o STF apelou a um ‘entulho jurídico’ da ditadura: a Lei de Segurança Nacional, criada em 1968, durante o regime militar. 

Sara Giromini protesta antes de ser presa em junho de 2020. Reprodução: Twitter

Os anarcocapitalistas estão repletos de contradições. Ao mesmo tempo que pregam a individualização máxima, defendem o capitalismo, sistema que só funciona com o coletivo; e misturam a teoria do anarquismo (de esquerda) com teorias econômicas de ultraliberalismo divulgadas por blogueiros e youtubers.

Uma vez carentes de ideais que os representassem, agora estas pessoas são os anarcocapitalistas brasileiros que abraçam valores confusos de uma ideologia rasa, seduzidos pela sensação de pertencimento.

Delma é jornalista e escreve sobre cultura, feminismo e política brasileira. Trabalha há mais de 10 anos com conteúdo e marketing digital. Atualmente cursa mestrado em Estudos de Gênero na Universidade Paris VIII.
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