Foto: montagem sobre reprodução.
Estreia nesta terça-feira, dia 3 de novembro, uma websérie que dialoga – sem ruídos nem bugs – com o universo de Vida Indigital.
“Falha na Conexão – a Série” conta com roteiro, produção, edição e direção de Patrícia Sá.
Os relacionamentos em geral se virtualizaram, e este processo não é de hoje ou da pandemia. Essa desmaterialização vem de anos. Será que a quarentena acelerou um bug humano que estava escondido e atrapalhando as relações virtuais este tempo todo? Ou será que naturalizamos tanto a tecnologia que não percebemos mais se o bug é humano ou tecnológico?
A diretora, Patrícia Sá, nos conta um pouco mais sobre o processo de criação (você pode acessar o perfil dela no Vimeo aqui):
O Falha na Conexão é uma websérie de 8 episódios que retrata a vida de um casal com pouco tempo de namoro vivendo os primeiros meses de quarentena separados por diversas razões. Os episódios são independentes, onde eles discutem assuntos aleatórios como extraterrestres, a vida dos vizinhos, a existência de Deus, o fim da pandemia e talvez do namoro. O ponto de encontro do casal é justamente as diferenças entre eles: Sabrina passeia em um parque cognitivo com muitas viagens mentais sobre tudo, já Eduardo é pragmático, focado no trabalho, em questões reais e adora tirar onda das viagens de Sabrina, que também tem seus lapsos de pragmatismos, assim como Eduardo tem suas crenças fora da curva e é aí que mora o equilíbrio da relação.
A vida de um casal durante a quarentena provocada pelo vírus da covid-19. Essa foi a primeira ideia que eu tive depois de assistir uma série “mais pra menos” da HBO chamada “Tell me you love me“, que mostra a relação de vários casais em crise. Com as notícias da crescente dos números de divórcio na China, outros mais próximos e as reclamações de quem está casado/morando junto nesse momento, pensei que esse seria um bom tema a ser abordado. Naturalmente tenho uma queda por escrever dramas, um dos meus projetos, denominado “a trilogia do adeus”, se trata de curtas-metragem sobre separação, mostrando três fases do mesmo momento: a despedida.
Mas logo que me veio a ideia e comecei a desenhar as primeiras cenas na minha cabeça, me bateu uma sensação não muito boa. Pensei que o momento já era delicado demais para oferecer um conteúdo que deixasse as pessoas ainda mais sensíveis ao tema e no mesmo minuto decidi que ia fazer algo mais leve e bem humorado.
Entre muitos desencontros, dúvidas e inseguranças, decidi seguir em frente com o projeto. Fiz testes com alguns atores, indicados por amigos da área, e comecei a montar as possibilidades de um casal que realmente desse um match. Foi difícil chegar num veredito porque todos eram muito bons! Mas aí foi uma questão de bater a atuação com a proposta e que os dois tivessem um bom contraponto para dar o equilíbrio do casal. Em junho comecei a ensaiar com a Erika Marinho, atriz carioca, e o Diego Antunes, ator e cantor que atualmente mora no Guarujá. Três estranhos no Zoom batendo um texto e entendendo onde iríamos chegar, aprendendo juntos como fazer aquilo dar certo. Eu fui entendo o processo enquanto a gente avançava. Ia pensando como iríamos gravar enquanto estávamos ensaiando. Por falta de recursos (financeiros, tecnológicos e de estrutura), entendemos que a melhor maneira era fazer como no teatro: ensaiar muito até que os dois estivessem com o texto e as marcações bem acertadas, já que eu não conseguiria acompanhar a gravação em tempo real, e no “palco” eram eles por eles.
Demorou um pouco para nos ajustarmos. Tivemos que repetir algumas gravações no começo e depois fomos nos acertando. A partir do terceiro episódio, mais ou menos, pegamos o jeito e seguimos muito bem. Quando o Igor Dalbone assumiu a edição dos episódios, pensou que os atores eram um casal real. Foi o sinal de que estávamos no caminho certo!
Em tempos de pandemia, tudo toma uma proporção muito maior e a gente fica muito sensível aos obstáculos, querendo mesmo desistir a qualquer sinal de dificuldade.
Mas sempre aparecem coisas para animar e dar um gás para seguir em frente, como a parceria com a marca Valentina Intimate, que vestiu a Erika no episódio de estréia, Sextalk; a Jéssica Menezes, roteirista que conheci no último FRAPA e topou escrever o episódio Vida Fora da Terra; o Victor Hugo Mattos que fez alguns exercícios de interpretação com os atores durante os ensaios dos primeiros episódios; o Felipe Campos que me ajudou no processo de naming, além de toda a equipe técnica que consiste em amigos que sempre abraçam meus projetos com muito amor e acho que é isso que não me deixa desistir e faz com que as coisas deem certo.
No fim das contas, tanto eu quanto os atores e toda a equipe envolvida acredita que é preciso fazer, fazer, fazer por nós mesmos, com ou sem incentivo fiscal. Principalmente no momento atual em que o desmonte do audiovisual é tão real e nos põe em xeque em relação a nossa escolha profissional. E aí a gente percebe que a escolha não é só profissional, é maior que isso. A gente escolheu ou foi escolhido e seguimos fazendo porque acreditamos que a arte também é salvação.
Mais sobre a autora
Roteirista e diretora de São Paulo, formada em RTV e pós-graduada em roteiro de Cinema e TV. Na bagagem, leva trabalhos de ficção, não-ficção, institucional, infantil, juvenil, comédia e drama para televisão, internet e cinema. Além de produção de conteúdo, pesquisas e trabalhos em redação publicitária. Usa o humor para disfarçar a timidez, adora ouvir histórias (até porque todas já foram contadas, mas sempre há algo de especial em cada uma delas) e tem paixão por contá-las. Entre uma viagem mental e outra, ainda arrisca contos, devaneios, crônicas e desabafos no http://osassaricando.blogspot.com.br
Perfil de Patrícia Sá no IMDb