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É só mirar na cabecinha

Witzel, Ratinho Jr., Carla Zambelli e todos os surfistas da gigantesca onda bolsonaresca miram nas cabecinhas.

Mas não só com armas: usam estilingues de fakenews e dardos de destruição de cérebros. E ploft, uma realidade paralela é criada. Desmoralizam a mídia profissional e atacam jornalistas impunemente, em total clima de agressividade normalizada, blindados por cargos públicos e pelo uso demagógico da liberdade de expressão.

E batizam o trágico tiroteio ideológico com nomes invencíveis: é provável que você já tenha se deparado com o comunavírus versão Olavo, fabricado no gabinete do ódio.

Com sucesso, um ministério invisível instalou-se no Palácio do Planalto. Invisível para quem não tem interesse que ele apareça. Insustentável, a invisibilidade acabou gerando comoção e surpresa em zero pessoas.

Descoberto pela CPMI das fakenews, ninguém denominou com todas as letras “Ministério do Gabinete do Ódio”. Disseminador do comunavírus e comandado por um pseudoministro-vereador, amontoou umas mesas aqui e ali, no mesmo andar da presidência, até porque sabemos na mão de quem está a Bic: na mão do capitão que defende Ustra – autor da Verdade Sufocada, que deixou uma viúva se alimentando de uma pensão militar vitalícia e também de uma fábrica de mentiras.

Efeitos do comunavírus

Os bilionários dos EUA ficaram US$ 280 bilhões mais ricos desde o início da pandemia. O Brasil assiste a uma fuga inédita de dólares, que está próximo dos R$ 6,00.

Enquanto isso, o ministério que mira nas cabecinhas com mensagens virulentas e destrutivas é o que tem maior sucesso e prestígio no governo. Bate recordes de engajamento. Não com você, claro. Mas tem que caia nesse papinho – cerca de 30% é a aprovação, dizem.

‘Acabar com o isolamento’ ou ‘a culpa é da china’ ou ‘é um vírus de laboratório’ são o bom e velho “salve-se quem puder“. Comunavírus, então, deixaria o regime nazista orgulhoso. A pessoa protesta de dentro do carro, ou no TikTok confinada em casa, e defende que os outros vão trabalhar. Confinada e protegida, protesta pelo direito dos outros de ir e vir. Ungida por deus.

O Brasil perde o bonde da História. Fica de fora dos esforços mundiais para combater a pandemia e reforça, enquanto não é destruído por outros poderes da república, o sucesso do gabinete anticomunismo milicioso, bolsonaresco e potencialmente genocida.

Parece que o país acabou. Frases assim aparecem pela timeline do Facebook, nas mensagens de amigos no Whatsapp daqui ou do exterior. Não há reação possível além do salve-se quem puder.

E há quem “não acredita” no vírus. Para estes, nem pensar em “mas vai que é verdade esse vírus mesmo”. Seria possível tanta bravura varonil diante do desconhecido vírus mortal que derrubou ações, aviões, planos, aglomerações e a privacidade como nunca antes em algum outro lugar do mundo?

A massa de manobra soldadesca está desesperada. O gabinete do ódio está prestes a ruir. Mas há os motivos mundanos que os fazem abraçar causas tão prontas, e podem ser variados: não querem ter a casa tomada pelo banco, ou não querem voltar a dirigir um carro popular, ou não querem andar de ônibus se a lojinha falir. Negam o vírus e a crise. Atiram a culpa da desgraça para todos os lados.

“Acabar” com o isolamento, porém, significa só uma coisa: desobrigar o governo de responsabilidades pela tragédia anunciada, porque quem pode se isolar não vai botar a cara no sol tão cedo.

As lojinhas abertas ficarão às moscas. O isolamento é um privilégio burguês, claro, mas não estamos num mundo normal, existe uma pandemia declarada. Então o isolamento passa a ser um direito, ou pelo menos deveria passar a ser, debaixo do mesmo guarda-chuva que resguarda a vida, deveria ser responsabilidade do Estado sim, como é no resto do mundo.

Parece haver uma guerra, mas não há. Miram um comunavírus nas cabecinhas como estratégia da necropolítica com sadismo cada vez mais explícito. Miram falsos medicamentos nas cabecinhas, normalizando a morte dos heróicos trabalhadores da saúde, como se fossem soldados a morrer na guerra inventada. Mortos por falta de equipamentos de proteção, uma guerra ficcional e assassina com interesses privados e eleitoreiros.

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It actually looks like a war. They use the virus as their #necropolitics strategy. They play with #negationism , their own private interests, non-fictional sadism, fake medicine. Turning the State into Deleuze’s war machine. The myth of the Hero, the Nation, the FatherLand we are walking into a State of Siege. Yes, Bolsonaro and his daddy Trump are continental gravediggers. * * Na verdade, parece uma guerra. Eles usam o vírus como sua estratégia de Necropolítica. Eles jogam com o negacionismo, seus interesses privados, sadismo não literário, falsos medicamentos. Transformam o Estado na “máquina de guerra” de Deleuze. O mito do herói, da nação e da pátria, nos fazem caminhar para um conveniente estado de sítio. Sim, Bolsonaro e seu ” papai” Trump são coveiros continentais.

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O isolamento de empresas é importante e merece atenção do poder público e do sistema financeiro, que já recheou os cofres mas conserva a própria liquidez enquanto o mundo desmorona.

As empresas com problemas de receitas ganhariam relaxamento de despesas se houvesse seriedade do Estado na condução da crise. As empresas não apenas exigiriam que os funcionários usassem máscaras e se distanciassem uns dos outros, mas ofereceriam os meios de proteção desde o início da pandemia. Mas não.

Miram na cabecinha do empresariado mensagens de que tudo vai passar, e estes exigem que os shoppings possam abrir para os caixas fluirem sem o capital já injetado nos bancos para refinanciá-los no aperto. Ao som de saxofones e violinos, o vírus morre ao injetarmos desinfetante no corpo.

Os interesses do punhado de xucros que tenta se perpetuar no poder a qualquer preço ficam cada vez mais expostos. A situação parece incontornável, as realidades paralelas não se cruzam nem dialogam mais.

Isso tudo porque não existe interesse em uma campanha publicitária do governo, não já interesse em coordenação com estados municípios e sociedade civil, exigindo – em alto e bom som – para que as pessoas usem máscaras e lavem as mãos. Não há nenhum anúncio do governo pedindo para que as pessoas mantenham distância umas das outras. Não há distribuição de máscaras ou de informação precisa pelo poder público.

Para retomar a atividade da economia, evitam a mensagem primordial em uma pandemia, a de que todos deveriam agir como se todos estivessem contaminados. O governo não é só o não-governo, ele age sem censura contra o interesse coletivo na maior crise de saúde pública do século.

O mínimo que deveria se esperar de governos que acessam a localização do seu celular é que também pegassem os números de telefone para avisar os mais de 250 milhões de celulares em circulação que ela, a pessoa dona do aparelho, deve se cuidar, tem o direito de exigir proteção à vida, e não de ser ameaçada de morte todos os dias pelo patrão histérico protestando, pelo presidente-coveiro, pela corja que habita o ministério paralelo do pandemônio.

Todos que andam por aí sem máscara são, invariavelmente, coronavírus ambulantes, conscientes ou não do potencial de destruição.

Todos se salvam como podem – individualmente, com o comunavírus no cérebro ou sem. Já é assim sem pandemia. No Brasil da pandemia, porém, sem coordenação nenhuma, como se fosse a idade média, o salve-se quem puder é devastador. Basta sair à rua para enxergar.

Mirar na cabecinha pode ser duas coisas: uma é a velha máquina policial de moer pobres, e a outra é penetrar e infectar a sua cabecinha. Governos existem pra jorrar bilhões no sistema financeiro e também para não deixar você falir ou morrer numa pandemia.

Cobrar esse contrato do governo é fundamental. Se o comunavírus infectou seu cérebro, a dúvida é a sua melhor amiga. Vai que o coronavírus é de verdade, letal, perigosamente desconhecido e subnotificado? Pelo menos agora, mire na própria cabecinha e salve quem você puder.

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