Foto: Josh Hild, Unsplash
Apenas uma única boa notícia circulou no noticiário dos Estados Unidos nesta semana: a partida de dois astronautas rumo à Estação Internacional.
Quem ficou no planeta Terra testemunhou o surgimento da maior onda de protestos, desencadeada depois do assassinato de George Floyd – um homem negro desarmado -, por policiais brancos em Minneapolis. O conflito racial na cidade (nos EUA e no mundo) não é de hoje.
Com o desemprego súbito de mais de 40 milhões de trabalhadores e uma recessão sem precedentes no horizonte, outros ingredientes explosivos se juntaram à revolta que toma as ruas de dezenas de cidades, grandes e pequenas.
Estados Unidos em guerra contra os Estados Unidos
Mesmo em meio a uma pandemia, manifestantes em Nova York, Chicago, Atlanta, Miami e Los Angeles se mobilizaram e se uniram ao levante iniciado em Minneapolis.
Segundo o jornalista Brian Stelter, da CNN, “essa agitação é ainda maior do que aparece na TV e no Twitter. Protestos pacíficos ou não também estão sendo relatados em cidades grandes e pequenas, em Raleigh, Cleveland, Dallas, Charleston, Oakland, Tampa Bay“.
Não temos visto um surto de tumultos como esse desde o assassinato de Martin Luther King Jr. em 1968
Douglas Brinkley, historiador
O historiador Douglas Brinkley conversou com o jornalista Brian Stelter sábado à noite e declarou que “houve tumultos mais mortais e danosos nos anos 1960 – como Newark, Detroit e Watts – mas não há comparação com a combinação tóxica do assassinato de George Floyd, Covid-19 e depressão econômica. 2020 é um ano de eleições, e todo o nosso processo democrático está estourando os nervos. Isso será conhecido como o verão do terror e do ódio na América“.
O próprio Stelter, que é da divisão CNN Business, critica a cobertura da imprensa. “Não mostre apenas o mesmo carro da polícia em chamas, descreva a extensão dos ferimentos, prisões e vandalismo em locais como Pittsburgh, Portland, Philadelphia, Salt Lake City, de costa a costa, e a lista (de cidades) continua aumentando. Os meios de comunicação devem mostrar que isso é muito, muito pior do que vimos em décadas“, afirma ele.
Sede da CNN e equipe da Fox News atacadas
Na noite de sexta-feira, uma equipe da Fox News foi perseguida, a um quarteirão da Casa Branca, por manifestantes que xingavam a Fox e criticavam a mídia de direita. O correspondente Leland Vittert, o cinegrafista Christian Galdabini e dois seguranças deixaram o local enquanto a multidão ficava cada vez mais hostil. “Vittert e a equipe foram atingidos e atingidos por projéteis enquanto fugiam. Uma câmera da Fox News foi quebrada quando um membro da multidão tentou agarrá-la“, informou a Fox News. Jornalistas de agências rivais apoiaram a equipe da Fox e condenaram a violência.
A CEO da Fox News Media, Suzanne Scott, disse em um memorando de sábado que a empresa está tomando “todas as precauções de segurança necessárias para proteger todos os nossos jornalistas e equipes de reportagem“.
O jornalista da CNN, Omar Jimezes, chegou a ser preso, ao vivo, junto com a equipe que cobria os protestos em Minneapolis sexta-feira, 29, pela manhã. Todos foram liberados em seguida.
And we’re back pic.twitter.com/dkYHYxe0u7
— Omar Jimenez (@OmarJimenez) May 29, 2020
A violência contra a imprensa não se limita à polícia. Para a esquerda, a CNN é uma emissora de direita e a sede da empresa em Atlanta foi atacada por manifestantes:
It’s not just Minneapolis, we are now seeing protests in cities across the country over the death of George Floyd. This is in Atlanta as some smash the glass at our downtown CNN headquarters. #GeorgeFloyd pic.twitter.com/iwJxFaUfxW
— Omar Jimenez (@OmarJimenez) May 30, 2020
Dois fotógrafos presos em Las Vegas
A fotógrafa Bridget Bennett contou a Brian Stelter que foi detida enquanto “trabalhava para a AFP“. Ellen Schmidt, fotojornalista do jornal Las Vegas Review, também foi presa. O editor executivo do Las Vegas Review, Glenn Cook, disse em uma mensagem de e-mail: “eles nunca deveriam ter sido tocados, muito menos presos e depois levados para a cadeia“.
Mensagem do secretário geral da ONU
António Guterres publicou uma mensagem defendendo os direitos da imprensa no sábado de manhã. “Quando jornalistas são atacados, sociedades são atacadas“, twittou. “Nenhuma democracia pode funcionar sem liberdade de imprensa e nenhuma sociedade pode ser justa sem jornalistas que investigam irregularidades e que falem a verdade ao poder“.
When journalists are attacked, societies are attacked.
— António Guterres (@antonioguterres) May 30, 2020
No democracy can function without press freedom nor can any society be fair without journalists who investigate wrongdoing and speak truth to power.
Assista abaixo imagens deste sábado do canal USA Today no YouTube:
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